domingo, 10 de abril de 2016

Principais efeitos da desidratação no rendimento desportivo

O rendimento atlético durante os exercícios prolongados pode ser nitidamente afetado pela desidratação, que provoca quer a espoliação de água (importante como condutor de calor e base de todos os processos metabólicos) quer de sais minerais (importantes como reguladores metabólicos).

Vários trabalhos demonstram-nos que quanto maior for a perda de água mais significativa será a diminuição da capacidade física. Uma perda líquida de 2% em relação ao peso corporal reduz a capacidade física em cerca de 20%. Para uma desidratação de 4% do peso corporal, a capacidade de trabalho fica reduzida em 40% a 18ºC e em 60% a 41ºC (Mathews e Fox, 1976).

Importa salientar que se a desidratação atingir 5 a 6% do peso corporal do sujeito pode sobrevir um estado sincopal por falha cardio-circulatória. Importa esclarecer o que se deve entender por desidratação, já que perdas de água por sudação ou por outros mecanismos termo-reguladores são normais na nossa vida de relação.

Deve considerar-se que o sujeito entrou numa fase de desidratação quando perdeu uma quantidade de fluídos corporais superior a 1% do peso total do organismo. A desidratação normalmente está relacionada com a diminuição do fluxo de sudação, volume plasmático, débito cardíaco, consumo máximo de oxigénio, capacidade de trabalho, força muscular e conteúdo hepático de glicogénico (Brooks e Fahey, 1984).

Vejamos em síntese alguma da sintomatologia relacionada com vários índices de deperdição hídrica (relação expressa em função do peso corporal):
  • Défice de 5% - sensação de desconforto, períodos alternados de letargia e nervosismo, irritabilidade, fadiga e perda de apetite;
  • Défice de 7% (extremamente perigoso) - salivação dos alimentos muito dificultada, bem como dificuldade em engolir;
  • Défice de 10% - bloqueio dos mecanismos de controlo da marcha, falta global de coordenação e movimentos espáticos;
  • Défice de 15% - delírio, pele seca e enrugada, diminuição do volume urinário, perda da capacidade de mastigação dos alimentos e dificuldade de engolir água;
  • Défice de 20% - a pele racha e sangra. Este é o limite superior de deperdição hídrica. Acima deste nível sobrevém a morte.

A perda hídrica está sempre associada às perdas de sódio e potássio, o que vai provocar uma maior fatigabilidade muscular e o aparecimento de cãibras (Pilardeau, 1981).

A sudação intensa provocando um gasto hídrico grande, que aliado às perdas minerais (sódio e potássio) vai redundar numa redução do volume plasmático com reflexos negativos no débito sanguíneo ao músculo e pele, com influência direta no rendimento atlético.

É de realçar o facto de que os atletas bem treinados e bem aclimatados ao calor têm uma menor sudação, sendo esta mais hipotónica por menor depleção de sais minerais, O treino sistemático leva à potenciação dos mecanismos homeostáticos, reduzindo as perdas hidro-salinas. A lógica da metodologia do treino deve visar a economia orgânica.

Outro efeito saliente da desidratação provocada pelo exercício prolongado assenta nas resultantes da acumulação de lactatos, de iões H+, que determinam a acentuação da acidose intracelular, que será tanto menor quanto menor a depleção hídrica.

Ao nível das dominantes respiratórias, durante o exercício prolongado verifica-se, em virtude da acidose muscular, uma facilitação na libertação periférica de oxigénio (Pilardeau, 1981).

Em termos de performance desportiva pode-se sintetizar as principais causas na degenerescência da prestação atlética em virtude das perdas hidro-eletrolíticas:
  • Deficiência no transporte calorífico desde os músculos aos pulmões;
  • Insuficiência no afluxo energético ao músculo em trabalho;
  • Bloqueamento da glicogenólise;
  • Concentração dos resíduos tóxicos.

A prevenção destas situações anómalas é conseguida com a ingestão de bebidas equilibradas durante o esforço, com uma organização criteriosa das treinos, com uma preparação adequada por métodos de treino adequados.

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